O plenário do Tribunal
de Contas da União (TCU) aprovou nesta quarta-feira (7), por unanimidade, o
parecer do ministro Augusto Nardes pela rejeição das contas do governo federal
de 2014. Devido a irregularidades, como as chamadas “pedaladas fiscais”, os
ministros entenderam que as contas não estavam em condições de serem aprovadas.
Esta é
a segunda vez na história que o TCU recomenda ao Congresso a rejeição das
contas de um presidente. A primeira foi em 1937, durante o governo Getúlio
Vargas. Na ocasião, o Congresso não seguiu a recomendação do tribunal.
As
irregularidades apontadas pelo TCU somam R$ 106 bilhões, sendo R$ 40 bilhões
referentes às chamadas “pedaladas fiscais”.
Para o
Nardes, ao adotar manobras para aliviar, momentaneamente, as contas públicas, o
governo desrespeitou princípios constitucionais e legais que regem a
administração pública federal. O cenário no ano passado foi classificado por
ele como de “desgovernança fiscal”.
Em seu
voto, o ministro disse que “o que se observou foi uma política expansiva de
gastos sem sustentabilidade fiscal e sem a devida transparência”. Para o
relator, as operações passaram ao largo das ferramentas de execução
orçamentária e financeira instituídas.
“Nessa
esteira, entende-se que os atos foram praticados de forma a evidenciar uma
situação fiscal incompatível com a realidade”, afirmou.
Segundo o ministro
Augusto Nardes, por tratar-se de um parecer prévio, não cabe recurso da decisão
no tribunal.
O parecer
do TCU será agora encaminhado ao Congresso, que dará a palavra final sobre o
tema. Em entrevista coletiva após a votação, Nardes afirmou que o parecer
prévio sobre as contas deve ser entregue ao Congresso até quinta-feira (8).
A análise da corte não tem efeito prático, já que funciona como
uma recomendação aos parlamentares. A rejeição, porém, poderá ser usada como
argumento para abertura de processo de impeachment da presidente Dilma
Rousseff.
O
trâmite prevê que o relatório do órgão de fiscalização seja primeiro avaliado
pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso e, depois, pelo plenário da
Câmara e do Senado – ou em sessão conjunta do Congresso Nacional, caso haja um
acordo entre as Casas.
Advogado-geral da União defende governo frente ao TCU (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Na entrevista coletiva após o julgamento, Nardes disse esperar que a decisão do TCU influencie os tribunais de contas dos estados para que comecem a avaliar o tema de forma mais “aprofundada”.
Ele disse que o descontrole fiscal poderá fazer com que, em um curto espaço de tempo, o Brasil tenha dificuldades para pagar o funcionalismo público, por isso a importância de decisões como a desta quarta.
Defesa
Presente à sessão, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, negou que o governo federal tenha violado a Lei de Responsabilidade em 2014. Ele também rebateu a acusação de que que o pedido de afastamento de Nardes tenha sido um ataque do governo à corte.
“Apenas registrar que, ao contrário do que se estabeleceu ou se disse politicamente por políticos ou por outras autoridades, de que se tratava de ataque à corte, não se trava e nunca se tratou. Tanto que eu nunca questionei o parecer da área técnica. Aliás, disse que respeito. Posso divergir, mas respeito”, afirmou.
Ofensiva do governo
A Advocacia-Geral da União (AGU) fez duas tentativas de adiar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), mas os pedidos foram negados pelo ministro Luiz Fux.
A Advocacia-Geral da União (AGU) fez duas tentativas de adiar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), mas os pedidos foram negados pelo ministro Luiz Fux.
Antes disso, a AGU havia protocolado no próprio TCU um pedido para afastar o ministro Augusto Nardes da relatoria do caso, alegando antecipação de voto. A solicitação, avaliada nesta quarta-feira, antes do julgamento das contas, não foi aceita pela corte.
Nardes negou que tenha antecipado o voto e acusou o governo de tentar “intimidá-lo”. Ele disse que distribuiu o parecer prévio sobre o caso aos outros ministros cinco dias antes do julgamento, como manda o regimento interno do TCU, e que não foi o responsável por “vazar” o documento para a imprensa.
Antes do julgamento, o plenário do TCU decidiu, por unanimidade, manter Nardes como relator do processo que analisa as contas do governo de 2014. O ministro-corregedor do TCU, Raimundo Carreiro, considerou que as declarações de Nardes se referiam ao conteúdo de relatórios do tribunal já concluídos, e não à decisão final da corte. Por isso, a decisão por arquivar o processo.
Explicações
O primeiro pedido de esclarecimentos sobre as contas de 2014 foi feito em junho pelo TCU, com prazo de 30 dias para resposta. Mas, devido à inclusão de novos fatos ao processo, o governo acabou ganhando mais tempo para se defender.
O primeiro pedido de esclarecimentos sobre as contas de 2014 foi feito em junho pelo TCU, com prazo de 30 dias para resposta. Mas, devido à inclusão de novos fatos ao processo, o governo acabou ganhando mais tempo para se defender.
‘Pedaladas fiscais’
Entre as supostas irregularidades analisadas pelo TCU estão as chamadas “pedaladas fiscais” e a edição de decretos que abriram créditos suplementares sem autorização prévia do Congresso Nacional.
As “pedaladas fiscais” consistem no atraso dos repasses para bancos públicos do dinheiro de benefícios sociais e previdenciários. Essa prática obrigou instituições como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil a usar recursos próprios para honrar os compromissos, numa espécie de “empréstimo” ao governo.
Nos dois casos, o Executivo nega a existência de irregularidades e argumenta que as práticas foram adotadas pelos governos anteriores, sem terem sido questionadas pelo TCU. As explicações entregues pela AGU na defesa do governo somam mais de 2 mil páginas.
G1
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