Suspeito de matar grávida em SP foi preso duas vezes nos últimos 40 dias

Tudo está registrado em boletins de ocorrência. A primeira prisão foi no dia 28 de novembro de 2011, durante uma abordagem de rotina. Se o suspeito estivesse hoje na cadeia, Daniela poderia estar viva, cuidando da filha.

Esta semana, o Brasil todo acompanhou a história de Daniela de Oliveira, a jovem grávida de nove meses que foi morta em São Paulo.
O repórter Valmir Salaro faz uma revelação: o suspeito do assassinato tinha sido preso duas vezes nos últimos 40 dias, mas acabou solto e, livre nas ruas, matou Daniela.
Com um tiro no rosto, a secretária Daniela Nogueira Oliveira, de 25 anos, grávida de nove meses, foi morta em uma tentativa de assalto. Os médicos agiram rápido e salvaram a criança. O nome já tinha sido escolhido pela mãe, Gabriela.
Noite de terça-feira, 8 de janeiro. As câmeras de segurança mostram o carro de Daniela passando por uma rua a caminho de casa. Ela é seguida por dois homens em uma moto. Daniela, que está sozinha no carro, estaciona em frente ao prédio onde morava, no Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo.
Aproveitando que o lugar é escuro, os dois homens da moto se aproximam e exigem a bolsa dela.
Os detalhes do que aconteceu em seguida não são conhecidos. O que se sabe é que um dos bandidos disparou um tiro em Daniela, que já estava do lado de fora do carro. Ela caiu no chão.
O suspeito corre. O piloto da moto também sai do local do assalto. Outra câmera registra o encontro dos dois rapazes logo depois, em outra rua. O que chega por último ajeita a arma na cintura. A dupla foge na moto sem levar nada.
Com a repercussão do crime, a polícia de São Paulo agiu rápido e prendeu um suspeito. Além das imagens das câmeras de segurança, o depoimento das testemunhas foi fundamental. Elas ajudaram a fazer um retrato-falado.
Assim que o retrato foi divulgado, surgiram dezenas de denúncias anônimas. Uma delas deu o caminho certo.
Na sexta-feira passada (11), ao mesmo tempo em que acontecia o enterro de Daniela, estes policiais militares buscavam o principal suspeito, em outro ponto da cidade. Os PMs foram para uma favela, não muito longe de onde Daniela foi morta. Moradores ajudaram a apontar a casa onde o suspeito estava escondido.
“A hora que ele viu que estava cercado, ele se entregou?”, perguntou o repórter.
“É, não tinha mais jeito, ele estava embaixo da cama, não tinha mais aonde ir”, contou o PM, soldado João dos Santos Filho. “Ele não falou nada quando foi preso, já sabia que estava sendo procurado por isso”, completou.
Na delegacia, o homem foi reconhecido.
“Apareceu uma testemunha aí e afirmou 100% que seria ele o autor do homicídio”, falou o PM.
Em março de 2011, Alex Alcântara de Arruda, 22 anos, foi condenado a um ano e nove meses de prisão em regime semi-aberto, por tentativa de roubo. Ele poderia sair da cadeia durante o dia, porém a noite teria que voltar e dormir na carceragem. Mas antes de conseguir um trabalho para se beneficiar da pena mais leve, Alex fugiu do presídio de Guarulhos, em setembro de 2011. Ainda assim, mesmo estando foragido, a Justiça concedeu a ele o direito de liberdade condicional, em 24 de novembro de 2011.
“Devem ter pedido o direito dele e aí demora um tramite para que a Justiça conceda. Enquanto essa ordem não tinha saído, durante esse período, ele fugiu. Então ele não sabia”, aponta o criminalista Maurício Zanóide.
O Fantástico faz agora uma revelação: registros da polícia mostram que Alex passou recentemente por uma delegacia, do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. 41 dias antes do assassinato da secretária, ele foi preso duas vezes pela PM. Se o suspeito estivesse hoje na cadeia, Daniela poderia estar viva, cuidando da filha.
Tudo está registrado em boletins de ocorrência. A primeira prisão foi no dia 28 de novembro do ano passado, durante uma abordagem de rotina. Na ficha criminal de Alex, ainda constava que ele era um foragido da Justiça, mesmo ele tendo obtido a liberdade condicional.
O policial que deteve Alex é o soldado João dos Santos Filho. Por coincidência, o mesmo PM que participou da ação que prendeu Alex, de novo, na sexta-feira passada.

“Cerca de dois meses atrás eu havia abordado ele, ele estava constando como procurado e o conduzi ao DP. Aí ele permaneceu à disposição do delegado de plantão e agora que eu fui me deparar novamente com ele”, contou o PM João Filho.

E não foi só isso. Outro boletim de ocorrência mostra que Alex foi detido mais uma vez, 29 dias antes da morte de Daniela, por dirigir uma moto irregular, sem capacete e sem habilitação. O documento policial revela que ele foi levado ao plantão policial, no dia 11 de dezembro de 2012, que funciona na mesma delegacia que tinha devolvido Alex às ruas, depois de uma breve detenção, em novembro de 2011.

Os endereços onde foram feitas as duas prisões, de acordo com os boletins, ficam em um raio de um quilômetro e meio de distância do local onde Daniela foi morta, no dia 8 de janeiro deste ano.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirma as duas prisões de Alex e afirma que o acusado foi liberado nas duas vezes por ordem da Justiça. A nota diz ainda que os policiais consultaram a 12ª Vara Criminal e foram informados de que não havia mandados de prisão em vigor contra o suspeito. Sobre Alex ter sido preso por pilotar uma moto em situação irregular, sem capacete e sem habilitação, segundo a Secretaria, a infração não justificaria uma prisão em flagrante.

Para um advogado criminalista, Alex poderia ter ficado preso se a Justiça soubesse que ele tinha cometido essa nova infração.

“No livramento condicional, uma das condições exigidas pela lei, quer dizer, aí depende do juiz, é que a pessoa não volte a delinquir. Não obstante exista uma dúvida se ele voltou ou não porque ele não foi julgado, aquele ato dele estar dirigindo uma moto sem habilitação deveria ter sido comunicado à Vara de Execuções, o juiz muito provavelmente poderia suspender isso. Pelas informações que chegaram e pelos documentos que se pode examinar, o sistema errou em algum ponto com certeza”, afirma.

O Fantástico consultou a assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo, para saber da situação criminal de Alex Alcântara. A resposta foi que não seria possível fazer esse tipo de consulta no fim de semana.

O PM, que fez a prisão de Alex Alcântara de Arruda por duas vezes, não estranhou encontrar o suspeito de matar Daniela nas ruas:

“Não me surpreendeu encontrá-lo de novo. A gente que trabalha aqui na área, quase todo dia se depara com pessoas que você já prendeu”.

A morte de Daniela deu esperança de vida a três pessoas doentes. A família decidiu doar os órgãos dela. Da vítima da violência, ficou Gabriela, uma lembrança e uma força para o marido e os parentes.

“É um momento muito difícil, muito doloroso, mas a gente vai superar. A Gabi tá aí, vai crescer firme e forte, a gente vai dar força para minha família, para o meu irmão”. Falou o cunhado da vítima, Gilsemar Araújo de Oliveira.

Gabriela recebeu alta, por volta das 16h deste domingo (13). A menina estava em um hospital da Zona Sul de São Paulo desde terça-feira (8), quando os médicos fizeram a cesariana de emergência. Antes de sair, a criança passou por uma série de exames. Ela está bem de saúde. O pai e outros parentes vieram buscar Gabriela, eles saíram pelo subsolo do hospital e não quiseram falar com a imprensa.

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