Os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio têm diferentes
motivos. O principal deles diz respeito ao território: israelenses e palestinos
lutam para assegurar terras sobre as quais, segundo eles, têm direito milenar.
Outra questão diz respeito à cultura e à imposição de valores ocidentais às
milenares tradições orientais. Pode-se ainda mencionar o fator econômico -
talvez o preponderante: potências capitalistas desejam estabelecer um ponto
estratégico na mais rica região petrolífera do planeta. E ainda existe a
questão política.
As tensões perduram há séculos. Expulsos da Palestina pelos
romanos já no século 1 da Era Cristã, os judeus acalentaram durante séculos o
sonho de retornar à "Terra Prometida", enfrentando todo tipo de
discriminação e perseguição. Todavia, o território, durante sua ausência, foi
ocupado por outros povos que, igualmente, sentem-se no direito de nele
permanecer de modo autônomo.
Durante o domínio britânico sobre a região, os ingleses
permitiram a compra de terras na Palestina por ricos judeus de todo mundo que
começaram a reocupar a região. Essa maciça migração de judeus para a Terra
Santa chamou-se Sionismo, em referência à Colina de Sion, em Jerusalém.
Os ingleses após a Primeira Guerra Mundial, comprometeram-se
a ajudar os judeus a construir um Estado livre e independente em território
palestino, buscando, assim, enfraquecer os árabes e conquistar vantagens
econômicas na região. Entre os anos 1930 e 1940, intensificou-se
consideravelmente a imigração judaica para a Palestina.
O descontrolado ingresso de judeus na Palestina acarretou
sérios problemas já às vésperas da Segunda Grande Guerra: as áreas de
assentamento judeu e palestino não foram delimitadas e grupos de
características étnicas e religiosas tão diferentes tiveram que compartilhar o
mesmo território, de onde resultam graves hostilidades entre ambos.
Com o holocausto promovido pelos nazistas durante a Segunda
Guerra, a opinião pública, sensibilizada com os sofrimentos dos judeus,
concordou com a criação de um Estado judeu na Palestina. A recém-criada
Organização das Nações Unidas estabeleceu que a solução para os problemas do
Oriente Médio seria sua prioridade, com a anuência dos Estados Unidos e da
Inglaterra, interessados em estabelecer um aliado na região, já que não
confiavam nos Estados árabes que a cercavam. Os palestinos, por sua vez, também
almejavam a criação de um Estado independente em território palestino e, para
isso, contavam com o apoio dos países árabes.
Em 1947, a ONU estabeleceu a divisão do território palestino
entre judeus, que ocupariam 57% das terras com seus 700 mil habitantes, e
palestinos, cuja população de cerca de 1,3 milhão de habitantes ocuparia os
restantes 43% do território.
Com a retirada das tropas britânicas que ocupavam a região,
começou, em 1948, uma guerra entre Israel e a Liga Árabe, criada em 1945 e que
reunia Estados Árabes que procuravam defender a independência e a integridade
de seus membros. A guerra foi liderada pela Jordânia e pelo Egito. Israel
venceu o conflito e ocupou áreas reservadas aos palestinos, ampliando para 75%
o domínio sobre as terras da região. O Egito assumiu o controle sobre a Faixa
de Gaza e a Jordânia criou a Cisjordânia.
Em 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser declarou
guerra a Inglaterra, França e Israel com o objetivo de assumir definitivamente
o controle sobre o canal de Suez, em mãos europeias desde sua construção. Para
isso contou com o apoio da União Soviética, país que, no contexto da Guerra Fria,
apoiava todas as iniciativas de libertação nacional a fim de conquistar aliados
para o bloco socialista. Durante o conflito, Israel ocupou a Península do
Sinai, mas, devolveu-a logo em seguida, devido à pressão norte-americana.
Organização para a Libertação da Palestina (OLP)
Para defender a luta palestina no sentido da criação de um
Estado autônomo, foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP),
em 1964, tendo como líder Iasser Arafat. Nas fileiras da OLP, surgiu o Al
Fatah, braço armado da organização que prega a luta armada e o terrorismo para
destruir Israel. A OLP só recentemente foi reconhecida por Israel como
representante dos interesses palestinos na questão territorial. Até então,
quando havia negociações de paz, seus membros ingressavam em delegações de
países árabes como Egito e Jordânia.
Em 1967, novo conflito eclodiu entre árabes e israelenses.
Após a retirada das tropas da ONU que guardavam a fronteira entre Egito e
Israel, soldados israelenses avançaram sobre a Península do Sinai, a Faixa de
Gaza e as colinas de Golã. As sucessivas ocupações de Israel sobre áreas de
população palestina obrigaram-na a refugiar-se em países vizinhos - sobretudo
ao sul do Líbano - onde passaram a viver em condições subumanas, acarretando problemas
para esses países. Além disso, a partir do sul do Líbano, a OLP, passou a
bombardear alvos israelenses na Galileia, levando o Exército de Israel a
realizar violentas operações de represália contra o território libanês a partir
de 1972.
A OLP adotou o terrorismo como estratégia de luta contra
Israel que, por sua vez, com amplo apoio das potências ocidentais, desenvolvia
respeitável aparato bélico.
Como resposta às invasões israelenses de 1967, no feriado
judeu do Yom Kippur (Dia do Perdão) de 1968, Egito e Síria desfecharam ataque
simultâneo a Israel que revidou prontamente, vencendo as forças agressoras. Nas
áreas que iam sendo ocupadas por Israel, principalmente em Gaza e na
Cisjordânia, surgiram colônias judaicas protegidas por soldados israelenses. A
estratégia visava consolidar o domínio sobre o território. Atualmente, mais de
170 mil judeus vivem em assentamentos nos territórios ocupados por Israel.
Acordos de paz
Quando o presidente Anuar Sadat assumiu a presidência do
Egito, assumiu uma postura de distanciamento da União Soviética e de
aproximação dos Estados Unidos. Daí resultaram conversações de paz entre
egípcios e israelenses que resultaram num acordo formalizado em Camp David, em
1979. Assinaram o acordo, sob os olhos do presidente norte-americano Jimmy
Carter, o presidente egípcio, Sadat, e o primeiro-ministro israelense, o
ultra-direitista, Menahem Begin. O acordo previa que Israel devolveria o Sinai
para o Egito até 1982 e que em Gaza e na Cisjordânia nasceria uma
"autoridade autônoma", da qual a OLP não participaria, e que
governaria essas regiões por 5 anos, até a retirada definitiva de Israel. O
acordo não agradou nem aos judeus instalados nas colônias do Sinai, de Gaza e
da Cisjordânia, nem muito menos aos árabes que esperavam maiores concessões por
parte dos israelenses. Por isso, Sadat, considerado por muitos, traidor da
causa árabe no Oriente Médio, foi assassinado em 1981.
Intifada
Na década de 1980, as negociações sobre o futuro do Oriente
Médio não avançaram. De um lado, os árabes iniciam a Intifada, rebelião popular
em Gaza, cujo estopim foi o atropelamento e morte de quatro palestinos por um
caminhão do exército israelense, em 1987. Adolescentes, munidos de paus e
pedras, enfrentaram, nas ruas, os soldados de Israel e o levante se alastrou. A
repressão israelense foi brutal. Desde então, os choques entre palestinos e
colonos nas áreas de ocupação israelense têm sido frequentes.
Em 1992, porém, a eleição de Itzhak Rabin, membro do Partido
Trabalhista, para Primeiro Ministro de Israel, favoreceu a retomada das
conversações de paz entre árabes e israelenses. Simultaneamente, Arafat,
enfraquecido pelas dissidências internas a OLP, já adotava uma postura menos
belicista e mais conciliadora.
A disposição de ambos levou-os, em 1993, a um encontro em
Oslo, onde ficou decidido que, de forma gradual, Israel devolveria a Faixa de
Gaza (área pobre onde se espremem 800 mil palestinos) e de Jericó, na Jordânia,
para a administração direta e autônoma dos palestinos, apesar dos cerca de 100 mil
colonos judeus ali instalados permanecerem protegidos pelo exército israelense.
Ao acordo, opuseram-se as facções palestinas hostis a Arafat,
alegando que as concessões de Israel eram pequenas frente aos desejos dos
palestinos, e os israelenses que habitam as regiões a serem devolvidas. Em 4 de
novembro de 1995, durante um comício pela paz na Praça dos Reis, em Tel Aviv,
um estudante judeu de 27 anos, membro de uma organização paramilitar de extrema
direita, assassinou Itzhak Rabin.
As negociações de paz não avançaram depois da eleição de
Benjamin Netanyahu, do Likud, partido de direita israelense, para o cargo de
primeiro ministro. Netanyahu não estava disposto a fazer concessões aos
palestinos. Todavia, em 1999, realizaram-se eleições gerais em Israel e o
Partido Trabalhista, representado agora por Ehud Barak, foi reconduzido ao
poder, reabrindo as negociações de paz para a região. O grande obstáculo nesse
momento é decidir sobre a situação de Jerusalém, cidade sagrada tanto para
judeus quanto para muçulmanos.
Todavia, em setembro de 2000, um episódio marcaria o
acirramento das tensões entre palestinos e israelenses, quando Ariel Sharon,
líder do Partido Conservador e principal expoente do conservadorismo judeu,
"visitou" a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém. O ato pareceu uma
forte provocação aos árabes e deu início à "nova intifada". Ataques
terroristas e confrontos diretos entre palestinos e israelenses tornaram-se
cada vez mais frequentes, ameaçando perigosamente as conversações de paz.
A situação, porém, tornou-se mais violenta quando, no início
de 2001, o mesmo Ariel Sharon foi eleito Primeiro Ministro de Israel, revelando
o sentimento dominante entre os israelenses de não retomar as negociações para
a criação do Estado Palestino enquanto durar a intifada.
Diante da violência dos atentados terroristas promovidos pelo
Hamas e pelo Hezbolah, grupos extremistas árabes que pregam o extermínio dos
judeus, as ações do exército israelense também têm sido cada vez mais cruéis,
atingindo, inclusive, a população civil das regiões dominadas.
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