O fantástico da Rede
Globo mostrou nesse Domingo (02), através do seu repórter
secreto o desvio de nove Milhões no Maranhão. A denúncia foi feita pelo Vice-prefito Sidney Pereira à Polícia Federal ao Ministério Público onde o mesmo relata o nome de quatro Empresas que tinha apenas a função de receber os desvios da Prefeitura.
secreto o desvio de nove Milhões no Maranhão. A denúncia foi feita pelo Vice-prefito Sidney Pereira à Polícia Federal ao Ministério Público onde o mesmo relata o nome de quatro Empresas que tinha apenas a função de receber os desvios da Prefeitura.
O Repórter da Globo não pode
mostrar o rosto, porque o anonimato é indispensável para o trabalho dele. Por
onde passar, esse repórter secreto vai querer saber: “cadê o dinheiro que
estava aqui?”
Eduardo
Faustini, também conhecido como o repórter secreto, tem uma missão: investigar
o roubo do dinheiro público seja onde for, em qualquer canto do país, em
qualquer cidade, grande ou pequena.
Cadê o dinheiro que estava em Anajatuba, uma cidade de 25 mil habitantes no
norte do Maranhão? Como toda cidade, Anajatuba precisa contratar empresas
prestadoras de serviço e fornecedoras de produtos. E para contratar prestadores
e fornecedores, a prefeitura precisa gastar dinheiro. Dinheiro público,
evidentemente.
No ano passado,
quatro empresas contratadas pela prefeitura de Anajatuba receberam juntos R$ 9
milhões, mas esse dinheiro da prefeitura foi desviado e quem descobriu a
falcatrua foi o vice-prefeito Sidney Pereira.
Fantástico: Cadê o dinheiro que estava aqui?
Sidney Pereira, vice-prefeito de Anajatuba: Aí só quem pode
explicar é o prefeito.
O vice-prefeito
checou documentos, descobriu que houve desvio de dinheiro e fez a denúncia à
Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público (MP).
“Se trata de
milhões. Milhões que deveriam estar sendo usados no município de forma mais
justa junto com aquelas pessoas que realmente precisam”, disse Sidney Pereira.
Muita gente
realmente precisa desses recursos em Anajatuba, até mesmo para alimentar as
crianças na escola, onde nem sempre tem água.
Fantástico: Se não pegar água no poço não tem merenda.
Adozinda Pereira, merendeira: Não, porque tem dia que não dá, e aí
a gente tem que fazer a merenda, não é? A gente tem que fazer a merenda.
“Quando não tem
a merenda, eu mando que as professoras despachem antes do horário, porque as
crianças não podem ficar com fome”, afirma Marenice Pereira, diretora da
escola.
Quando entra em
uma investigação, o repórter secreto tem um lema: siga o dinheiro. Ele seguiu.
Das quatro
empresas contratadas pela prefeitura de Anajatuba, a que levou mais dinheiro se
chama A4. Em 2013, a A4 fechou um contrato de R$ 6,5 milhões para alugar carros
e máquinas.
O repórter
secreto foi até a sede da empresa.
Fantástico: A gente está procurando a A4.
Paulo Moisés de Albuquerque, filho do dono do imóvel alugado pela empresa
A4: Era aí.
Fantástico: Era, não é mais.
Fantástico: Essa empresa funcionou durante quanto tempo
aqui?
Paulo Moisés de Albuquerque: Um ano e meio.
Fantástico: E que que funcionava aí?
Paulo Moisés de Albuquerque: Nada. Funcionava nada, não. Ficava
fechado. Só fachada.
Uma empresa de fachada recebe milhões da
prefeitura. Aí tem.
“Essa empresa, na verdade, ela só entra na emissão
das notas fiscais”, conta Sidney Pereira, vice-prefeito de Anajatuba.
O repórter secreto deu mais um passo e foi atrás de
um homem que aparece como sócio da A4: Raimundo Nonato Silva Abreu Júnior. Ele
está sendo investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, mas nega
que seja empresário: “Sou taxista sindicalizado”, diz Raimundo.
Raimundo diz que trabalhou apenas como motorista do
dono da A4.
Fantástico: E por que usaram teu nome?
Raimundo: Pra não aparecerem. E eu fui descobrir depois de muito
tempo.
O homem está tenso. Desde que o vice-prefeito fez a
denúncia, Raimundo se sente ameaçado por aquele que seria o chefe do esquema,
por isso anda armado.
Raimundo: Eu vim até armado.
Fantástico: Nós somos jornalistas da TV Globo.
Raimundo: Rapaz, eu vou pra matar ou pra morrer.
Daqui a pouco aparece o pai de Raimundo. Ficou
desconfiado do nosso repórter. Ele também é taxista. Ele também está armado,
por baixo da camisa.
Pai de
Raimundo: Eu vim
preparado.
Fantástico: Nós somos jornalistas, já nos identificamos com ele. TV
Globo.
Aí o Raimundo pai se acalma e guarda a arma no
carro. Ele diz que veio defender Júnior. “O cara é inocente, então... Pegar,
fazer uma molecagem dessa. Um caboco desse merece a gente dar um tiro na cara
dele”, disse.
Mas se Raimundo filho não é dono da empresa, quem
é? Ouvimos pela primeira vez o nome de quem seria o verdadeiro dono dessa
empresa: Fabiano de Carvalho Bezerra.
O repórter secreto vai agora à sede de outra
empresa contratada pela prefeitura no ano passado. É a MR Serviços. Valor do
contrato: R$ 855 mil. Para coleta de lixo.
Fantástico: Esse endereço aqui, ó, Avenida Cafeteira, 1413, em
Raposo, é o da senhora, né?
Senhora: É, mas aqui não tem comércio, não.
Fantástico: A senhora mora aqui há quantos anos?
Senhora: Uns 17. Essa casa que eu levantei, aqui era uma lagoa. Só
mato quando eu comprei o terreno. Você acredita?
Depois das denúncias do vice-prefeito, a MR
Serviços, uma empresa fantasma, foi substituída pela RR Empreendimentos
supostamente para prestar os mesmos serviços de coleta de lixo.
O repórter Eduardo Faustini foi então até a sede da
empresa, que fica em uma cidade vizinha: Raposa, também na Bahia. Em Raposa, o
repórter secreto ouviu mais uma vez o nome do homem que estaria por trás do
desvio de dinheiro da prefeitura.
Fantástico: Você trabalha aqui?
Funcionário: Trabalho.
Fantástico: Quem é o dono?
Funcionário: Fabiano.
Fantástico: Fabiano? Fabiano de quê?
Funcionário: Bezerra.
Fabiano Bezerra. Daqui a pouco vamos voltar a esse
nome.
Do lado da RR, fica mais uma empresa: a construtora
Construir. A Construir teve em 2013 contratos no valor de R$ 1,4 milhão. Para
reforma de escola e obras em estradas vicinais.
“Essa empresa nunca teve no município”, disse o
vice-prefeito.
E afinal? O que o prefeito tem a dizer sobre isso?
“Essas empresas que foram objeto já de denúncias
anteriores não trabalham mais para prefeitura de Anajatuba”, afirma Hélder
Aragão, prefeito de Anajatuba/MA.
Não trabalham mais porque o atual vice-prefeito foi
quem denunciou às empresas ao Ministério Público e à Polícia Federal. Mas uma
delas ficou.
“Não sei se ainda tem. Acho que ainda tem uma
empresa, acho que é a A4, não é? Que ainda presta serviço pra Anajatuba”, disse
o prefeito.
O senhor prefeito ainda é alvo da investigação da
Polícia Federal por outro motivo: segundo o depoimento de um funcionário da
prefeitura, ele teria fraudado dinheiro do ensino público. Em 2013, Anajatuba
tinha 5.500 alunos, mas enviou ao Governo Federal uma lista com cerca de 6 mil
crianças. Isso porque...
Fantástico: Quanto mais aluno...
Vice-prefeito: Mais dinheiro entra.
“Ele tinha
apenas dois anos de idade, quando ele foi matriculado”, disse Roberta Dutra,
mãe de menino matriculado indevidamente.
E agora,
prefeito? “Esse erro, esse erro, foi algo que não proposital”, disse ele.
Quando essas
crianças da lista começarem realmente a estudar, tomara que não encontrem a
realidade vivida pelos alunos da Escola Municipal Maria Oliveira Bogea. Veja no
vídeo acima as condições em que a merenda é feita lá.
Fantástico: A senhora pega água?
Funcionária: Pego. Agorinha vim do poço. Esses baldes d'água nós
fomo pegar no poço.
O Governo
Federal informa que Anajatuba tem R$ 15,5 milhões do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica. Desse dinheiro será descontado o valor pago
a mais por conta do cadastro fraudado.
“Recebemos uma
média de 7 mil denúncias a cada ano. Não posso afirmar quantas exatamente
envolvem prefeituras, mas a estimativa é de cerca de 70%. Então, 70% de 7 mil
envolvem prefeituras”, disse Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria-Geral
da União.
São denúncias
de todo tipo, incluindo aquelas sobre empresas fantasmas. Em Anajatuba, quem
estaria por trás delas? As investigações apontam para Fabiano Bezerra, um
empresário da cidade.
No mês passado,
um ex-funcionário de Fabiano deu depoimento à Polícia Federal em São Luís. Com
medo de represália, ele pediu para não ter a identidade divulgada.
O
ex-funcionário afirmou que Fabiano Bezerra é o responsável pelas empresas A4,
Construir, RR Serviços e MR Serviços, as tais quatro empresas que fecharam
contratos de R$ 9 milhões com a prefeitura.
A testemunha
disse também que o esquema das empresas é prestar serviços e fornecer produtos
superfaturados a diversas prefeituras e que todas as notas dessas empresas são
frias.
O repórter
Eduardo Faustini procurou Fabiano Bezerra em casa e pelo telefone. Ele nega ser
dono das empresas. Mesmo assim, defende a A4. Afirma que o que seriam as
verdadeiras instalações dessa empresa são de primeira qualidade. “A sede da
empresa é top de linha! Tem uma placa na frente, A4, direitinho...”, diz
Fabiano.
Fabiano deu o
suposto endereço, e o repórter secreto foi até lá. De fato, tem uma placa na
frente, mas veja o que diz um vizinho da tal sede.
Guilherme
Ferreira, comerciante: Uns quatro meses.
Fantástico: Quatro meses que abriu?: O senhor vê
movimentação aí?
Guilherme Ferreira: Não. Não vejo, não.
Fantástico: Nunca teve empresa aberta aí?
Guilherme Guilherme Ferreira: É.
Fantástico Ferreira: Que eu saiba, não.
Fantástico: E o senhor tá há quanto tempo aqui no comércio?
Guilherme Ferreira: Oito anos.
Mas, afinal,
senhor Fabiano Bezerra, cadê o dinheiro que estava aqui?
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