Estamos chegando ao fim de 2014, ano em
que horror e maravilha se encontram. O horror é de todos conhecido a esta
altura. O Estado brasileiro está sendo assaltado, espoliado, dilapidado.
O Estado, meus caros, reúne tudo e nada
ao mesmo tempo: nele estão às instituições, o ordenamento jurídico, os direitos
assegurados, as expectativas de direito, os valores que nos permitem conviver
de forma mais ou menos harmoniosa etc. Mas, quando falamos em Estado, as
pessoas desaparecem, somem, perdem como dizia o poeta, a sua carnadura
concreta.
Sim, o Estado, numa democracia, nada
mais é do que o conjunto dos interesses dos cidadãos traduzido numa ordem
abstrata. Estados existem para servir aos indivíduos, não o contrário. Ora, mas
são tantos os interesses, tão distintas as inclinações, tão diversas as
convicções, tão várias as ideologias, que cabe a pergunta: “Pode um ente
abarcar tamanha largueza?”
A resposta: pode, sim! E tanto mais o
fará quanto menos fizer. Vale dizer: o Estado mais presente é o menos presente.
Um Estado gigante deixa de ser um árbitro para ser uma parte do jogo. E
produzirá injustiças em penca. Precisamos de um Estado mais forte e mais
presente na segurança pública, na educação e na saúde. E precisamos que ela
saia com urgência da operação da economia propriamente dita. Ao fazê-lo, ele
deixa de articular as diferenças e passa ser uma espécie de gendarme em favor
de uns poucos privilegiados.
A roubalheira na Petrobras, à diferença
do que diz a presidente Dilma, não é apenas obra de indivíduos, de pessoas. É
mais do que isso: a roubalheira na Petrobras é fruto de um modelo de gestão, de
um sistema, de um modo de entender a coisa pública, como deixou claro o
ministro Gilmar Mendes em entrevista exclusiva ao programa “Os Pingos nos Is,
que ancoro na Jovem Pan.
Não estamos sendo assaltados apenas por
uma quadrilha. Estamos sendo assaltados, também, por farsantes ideológicos — o
que significa, então, a farsa dentro da farsa. Sob o pretexto de produzir
justiça social, um bando destrói o patrimônio brasileiro e compromete o futuro
do país. Pior para todos nós, mas especialmente para os pobres.
Mas eu falei que o ano de 2014 também
traz sinais de maravilha. Percebo um saudável despertar das consciências; noto
que é crescente o inconformismo como esse estado de coisas; meus radares
detectam uma insatisfação saudável com aqueles que se querem donos do nosso
destino. Ao mesmo tempo em que as safadeza da Petrobras nos deixam
estarrecidos, elas também nos informam que, de verdade, donos do nosso destino
somos nós mesmos.
A democracia não comporta salvadores da
pátria; a democracia não comporta demiurgos; a democracia não comporta
discursos salvacionistas. A cada dia, mais gente se mostra insatisfeita com
esse jogo rasteiro do “nós contra eles”, da política exercida como guerra de
todos contra todos, o que, como vemos, só atende aos interesses de ladrões e
vigaristas ideológicos.
Sabem por que a Petrobras se tornou
aquele antro? Porque os que passaram a decidir seus destinos agem como
vencedores de uma guerra sem regras. À moda de tempos idos, de pouco apuro
moral e ético, acreditam que a vitória lhes dá o direito de saquear, de
estuprar, de humilhar, de eliminar os sobreviventes.
A sociedade está aprendendo a reagir e
ganha as ruas não para demonizar pessoas, mas para reivindicar o cumprimento
das leis definidas pelo jogo democrático.
Este blog é parte dessa luta e se
orgulha muito disso. Não serve a este ou àquele, mas pensa e se posiciona sem
falsos pudores. Não tem receio de chamar as coisas e as pessoas pelos seus respectivos
nomes. Não ofende, mas confronta. Não agride, mas diz “não” quando julga ser o
caso. Não concede, mas diz “sim”, quando também julga ser o caso. Não trai
jamais seus leitores porque não esconde o que pensa; não se refugia no
conforto de uma posição nem-nem; escolhe sempre um caminho.
E nós seguiremos adiante: com alegria,
com determinação, com destemor — já que a coragem não deve ser tomada como
atributo de homens raros. É só uma obrigação.
Por Reinaldo Azevedo
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