Um governo
chega, às vezes, ao grau zero da articulação. Foi o que se viu nesta
quarta-feira com o espetáculo patético protagonizado por Cid Gomes (PROS), em
boa hora já ex-ministro da Educação. Numa palestra, o homem disse haver 300
achacadores no Congresso. Ainda que houvesse 400, na democracia, quando um
ministro de Estado diz algo assim, está obrigado a dar os nomes. Obviamente não
tenho a menor simpatia por um ataque ao Legislativo bucéfalo como esse. Ele me
remete aos “300 picaretas” que Lula dizia existir no Parlamento brasileiro em
1993. Ganhou até uma música de um grupo de rock. Vinte e dois anos depois, o PT
está no 13º ano de poder e já tem nas costas o mensalão e o petrolão.
Ademais, quem
é Cid para falar? Não ocupava a pasta em razão de alguma especial inclinação
para a área. Estava lá em razão de um acordo político. O ministério lhe foi
dado para beneficiar o tal PROS, um partido surgido do nada — do troca-troca
indecoroso que a legislação permite —, com o único propósito de participar dos
despojos da balcanização que toma conta da política brasileira. O Cid que foi
demitido nunca deveria ter sido convidado.
É evidente
que o homem deveria se desculpar. Em vez disso, resolveu ter um chilique e
enfiar o dedo na cara do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem
ele tem o direito de não gostar. Mas deve respeito à função institucional do
outro, ora essa! Daqui do meu conservadorismo, pouco me importam disposições
subjetivas e esferas de opinião. A instituição tem de ser preservada. O fato de
haver um pedido de inquérito para investigar Cunha não dá a um ministro de
Estado o direito se portar como um vândalo.
E aconteceu,
então, o inédito. Tão logo Cid deixou o Congresso, com uma claque importada do
Ceará a acompanhá-lo, Cunha foi ao Palácio do Planalto e voltou com o anúncio:
o homem tinha sido demitido. Na verdade, ele sabia que já chegara com o emprego
por um fio. Mas sabem como é… Os Gomes, do Principado de Sobral, nunca se
dobram nem — ou muito especialmente — às regras do decoro.
Nunca se
tinha visto nada parecido. Dilma ficou, obviamente, sem opção. O PMDB avisou:
se Cid Gomes ficasse no cargo, o partido abandonaria o barco do governo. É
evidente que Dilma não precisava de mais essa crise. Cid sai em meio à lambança
no Fies, o programa que financia o terceiro grau em instituições privadas, que
alcança agora cifras estratosféricas.
Foi um
espetáculo patético. Cida foi demitido, na prática, por Cunha — e muito bem
demitido, diga-se. Saiu de lá em seu próprio carro, aplaudido por aqueles que
havia levado para aplaudi-lo. O Brasil é um país valente. É impressionante que
sobreviva.
0 comentário "Cid Gomes já vai tarde! Sai quem nunca deveria ter entrado"
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