Com 34 anos de idade e preso há 15,
João* pode ser considerado um experto dos vestibulares. Entre 2013 e 2015, ele
ganhou cinco bolsas de estudos em faculdades do Distrito Federal. Ganhou, mas
não levou. Apesar de deixar a penitenciária, em Brasília, diariamente para
trabalhar como auxiliar administrativo, a Justiça não o liberou para sair
do local para estudar.
Por causa de decisão judicial, que
alega que João* não cumpriu o 1/4 da pena (de 72 anos por roubo de carros e
formação de quadrilha) necessário para conseguir a liberação, ele perdeu as
quatro bolsas que conseguiu pelo Prouni: duas em relações públicas (em 2013 e
2014) e duas em educação física (em 2014).
Se não conseguir ser liberado em três
meses, João* (que há três anos cumpre a pena no regime semiaberto) deve perder
a bolsa que conseguiu no curso em que sempre quis cursar: direito. Aprovado no
primeiro semestre deste ano por meio de uma seleção entre detentos, ele está
com a matrícula trancada até janeiro.
Como ele foi considerado reincidente
(por mais de uma condenação), ele só terá direito a saída temporária com ¼ de
pena. A última esperança dele é que a Justiça reconsidere um pedido de
unificação de pena que foi negado: "Fui punido em dez processos diferentes
e por isso deu uma pena tão grande". A unificação acarretaria em redução
de pena e faria com João* garantisse o ¼ necessário para estudar.
Se sofrer nova negativa, terá que
esperar muito tempo para poder estudar. "Cumpri 15 e ganhei um de remição
(redução) por ter estudado na prisão. Faltariam dois anos para chegar a ¼ da
pena", explica.
João* diz que mesmo com um revés não
vai parar de estudar, mas lamentará: "Quando começar a minha liberdade, eu
vou tentar construir meu futuro de novo. Mas sinto que estou perdendo tempo. E
dois anos é muito tempo e não sei se consigo uma vaga em direito de novo".
História
João* conta que começou a se envolver
com "pessoas que não prestam" na adolescente e isso o levou para
realizar alguns crimes. Aos 19 anos, ele foi condenado a 72 anos de prisão por
roubo de carros e formação de quadrilha. "Todos os crimes cometi em três meses.
Foi uma besteira que eu fiz e desde então não cometo crimes".
À época, ele havia cursado até a
sétima série do ensino fundamental. Na prisão, ele terminou de cursar o
fundamental e fez o ensino médio. Aí surgiu a vontade de fazer uma faculdade:
"Lá dentro, a ociosidade força a gente a ocupar a mente com alguma coisa.
Entre o produtivo e o não produtivo, optei pelo produtivo. Então resolvi
estudar". Ele aponta que utilizava todo o tempo livre para poder estudar.
Sobre o futuro, ele diz que espera se
formar para conseguir se reinserir da melhor forma na sociedade. "Quero o
curso também para me preparar para o mercado de trabalho. Podiam levar em conta
a questão social. Liberado da prisão todo mundo é. É melhor voltar para a rua
socializado", afirma.
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