Acorda às seis da manhã, faz café, liga o
rádio e vai abrir a 'quitanda
', seu pequeno comércio de variedades. Divide
atenção entre a quitanda e a mulher, Dona Maria Serrão, com quem é casado há 52
anos, mas que nos últimos anos vive adoentada por uma mazela que a
impossibilitou de executar sozinha, as atividades mais cotidiana.
Essa é a rotina diária de Raimundo Martins Serrão, conhecido
popularmente como Seu 'Serrão',comerciante, natural do povoado Bela Vista (que
fica no interior da região compreendida pelo município)e um dos fundadores da
pacata cidade de Pedro do Rosário.
O nome do município surgiu da alcunha de um mascate, natural de
Penalva - Ma, que além de ter sido um dos primeiros a abrir uma quitanda na
região, era também criador de gado e tinha por nome de batismo Pedro Cunha
Mendes.
Quando chegamos ao seu pequeno mercado encontramos um
septuagenário com todas as rugas próprias da idade; do alto de sua cadeira por
trás do balcão vimos um homem bem humorado e extremamente minucioso em suas
narrativas, fato um pouco incomum para alguém de sua idade.
Quando pedimos que contasse sobre a origem do município ele
relata:
"Pedro
do Rosário foi criada, aliás, não foi Pedro do Rosário ainda, foi criado
primeiro o Povoado Bandeirantes, em 1969, quando criaram a estrada entre
Penalva e Viana. Eu vim para a região da Baixada na construção da estrada.
Nesse tempo ou se vinha de lancha por São João Batista e Pinheiro, ou se vinha
de avião."
Foi nessa época que, segundo ele, seu pai resolveu deixar o
povoado de Bela Vista, um povoado centenário que com a criação da cidade passou
a fazer parte de Pedro do Rosário, e veio morar na beira da nova estrada
trazendo consigo toda a família, entre eles seu Raimundo Serrão, que nessa
época já era comerciante e casado com dona Maria.
"Depois
que criaram a estrada aqui, o povo começou a circular por aqui, de são Bento,
Perimirim, Santa Helena,Mirinzal e tantos outros. Aí vieram os moradores dos
povoados mais próximos para a beira da estrada. E como o povoado aqui cresceuse
tornou uma parada quase obrigatória, eu nessa época tinha um restaurante, era
um movimento muito grande."
A essa altura da narrativa seu Serrão já não nos olha mais, seu
olhar passeia, divaga por tempos idos,e isso fica claro na sua feição
sorridente. Retorna da distração como em um sopro. Continua:
"Pedro
do Rosário quando veio pra cá era 'de fora', a Maria que era bem conhecida
aqui, ela é de uma família bem tradicional da região da baixada, inclusive a
família dela fundou um povoado aqui perto, o Catente. Maria do Rosário e eu
fomos criados juntos, nossa diferença de idade se for um ano émuita, ela se
casou comesse rapaz de Penalva bem novinha, como todo mundo naquela época. Eles
vieram pra beira estrada quase no mesmo tempo que meu pai, montaram uma
quitanda também, ela foi tomar de conta e ele viajava trazendo coisas...
mascate, sabe?"
"No
tempo que aqui virou povoado e começou a briga pra virar cidade, eles brigaram
muito pela causa. O Pedro morreu antes de conseguirem fazer virar cidade, mas a
Maria foi a primeira prefeita daqui, mandou aqui ainda por oito anos."
Quando perguntado sobre a importância de projetos como o Rondon
para a cidade, ele é categórico:
"Aqui
tem umas coisas que preocupam muito, uma é que aqui é muito pobre, isso o
Maranhão e o Brasil pode atestar, mas de uma terra muito fértil, aqui tudo o
que se planta dá. No entanto quase tudo que a gente come aqui foi plantado de
fora, o povo não sabe mais plantar, as novas gerações não entendem a
importância de você comer da sua terra, e eu vi na vinda do povo do Projeto pra
cá, a chance de se voltar a fazer a terra dar alguma coisa, por que eles ensinam
como planta, ensinam até de um jeito moderno, (risos) que o povo de antigamente
não sabia. E eu espero que isso ensine o povo, a agricultura é o caminho pra
tirar o povo daqui da pobreza. Por que o povo sabendo plantar, o governo vai
ter que ajudar o povo a plantar, colher e estimular o trabalho."
Mesmo em sua simplicidade de homem sem títulos acadêmicos, Seu
Serrão desvenda um dos maiores problemas da região mais pobre do estado do
Maranhão e da cidade com um dos IDH ' s mais baixos do país.
Segundo dados do censo escolar do município, quase 80% da
população recebem Bolsa Escola; e conforme os dados do censo 2010 realizado
pelo IBGE, das 22. 732 pessoas residentes em Pedro do Rosário, apenas 539
possuem emprego formal e ganham um salário superior a 800 reais por mês e o
investimento em agricultura tem fechado abaixo da média nacional desde 2011.
Ver aquele senhor de setenta e poucos anos (pois segundo ele,
depois dos sessenta só se conta números redondos) depositar tanta confiança no
Projeto Rondon, nos deu certo orgulho e aumentou ainda mais a nossa
responsabilidade. A vontade era de conversar muito mais, e assunto para falar
ele tinha, contudo se aproximava à hora do almoço e dona Maria Serrão e a fome
eram sem sombras de dúvidas urgências inadiáveis.
Texto: Juliana Eugênio
Foto: Aleilton Santos
Fonte: Comunicação Social | UFMA | Imperatriz
0 comentário "A comunidade no Rondon: Pedro do Rosário - MA "
Postar um comentário
Deixe seu comentário