Desde que deixou a Presidência do Senado, José Sarney perdeu influência e cargos no governo. Sem o poder de outrora, o senador admite não concorrer à reeleição
Do fundo do plenário, local jocosamente apelidado de zona
cinzenta, o senador José Sarney (PMDB-AP) acompanhou escondido por uma
pilastra o entusiasmo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao
anunciar a promulgação da PEC das Domésticas, no início da noite da
quarta-feira 3. Para não deixar transparecer sua inequívoca condição de
coadjuvante, Sarney deixou a passos lentos a cerimônia, durante a última
estrofe do?Hino Nacional?. Acompanhado por dois assessores, esperou pelo
elevador privativo sem receber nenhuma tapinha nas costas ou cumprimento dos
antigos bajuladores.
Mas não seria este o primeiro sinal da solidão de Sarney, depois
de deixar o comando do Congresso. No fim de fevereiro, quando chegava ao
plenário para marcar presença já como senador comum, ele foi abordado por um
antigo funcionário. O servidor notou o isolamento e o ex-presidente logo
emendou. ? eja como é o poder. Junto vem a velhice?, Desabafou com voz trôpega
e ar cansado. Sem poderes formais no Senado, Sarney demonstra ter pouca
disposição para o exercício legislativo. O parlamentar, que já não relatava uma
matéria desde 2002, chega sempre por último nas reuniões partidárias, quando o
encontro já está no fim. Sarney anunciou até uma licença de 120 dias para
terminar o livro?Testamento para Roseana? A data ainda não está definida. Seu primeiro,
Salomão Alcolumbre, está de sobreaviso, mas ainda quer ver para crer que
conseguirá ocupar a cadeira de Sarney nesta legislatura.
Rei posto no Congresso, rei posto também na Esplanada dos
Ministérios. Desde o fim do ano passado, Sarney tem perdido posições
estratégicas no governo Dilma. Na Anatel, ele dominava duas das 12 cadeiras do
conselho consultivo. Perdemos ambas, com o fim do mandato de Fernando César
Mesquita em fevereiro e a substituição de Virgínia Malheiros. Na Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Sarney também viu seu poder
minguar, com a saída de Fernando Fialho da diretoria-geral do órgão. Na Agência
Nacional do Petróleo (ANP), Alan Kardec, indicado por ele, não foi reconduzido.
Na Valec, o senador maranhense perdeu a presidência da autarquia ? com a saída
de José Francisco das Neves ? e a diretoria de engenharia do órgão, que era
comandada por Ulisses Assad, seu aliado.
Sentindo-se desprestigiado, antes do feriado da Páscoa,
Sarney sacou o telefone e ligou para a presidenta Dilma Rousseff. Aliados
contam que ele demonstrava preocupação com a situação do Ministério
do Turismo, pasta comandada por seu aliado e também maranhense Gastão Vieira.
Mas não foi a permanência de Vieira que levou o ex-presidente da República a
recorrer a Dilma. Há tempos, Sarney tenta reaver o comando do Instituto
Brasileiro de Turismo (Embratur). Seu inimigo político, o comunista Flávio
Dino, preside o órgão e cresce como um dos principais nomes na corrida pelo
governo do Maranhão em 2014. No que depender da presidenta, no entanto,
Sarney ficará a ver navios. A Embratur deve mesmo permanecer sob o
controle do PCdoB. Para piorar, Dilma estuda a substituição de Washington
Viegas, indicado de Sarney na Companhia Docas do Maranhão (Codomar).
Para tentar recuperar parte do fôlego político,
Sarney articula para que sua família ganhe duas cadeiras no Senado no
próximo ano. A estratégia começa no Amapá e termina no Maranhão, seus redutos
eleitorais. Ele convenceu sua filha, a governadora Roseana
Sarney (PMDB-MA), a disputar uma cadeira de senadora em 2014. No
Amapá, pode lançar o filho Fernando Sarney. Questionado sobre seus projetos
pessoais, a partir do próximo ano, Sarney tem dito que pensa em se dedicar
somente aos livros. Amigos próximos adotam a cautela. ?Ele também costuma dizer
que há duas maneiras de sair da política. Ou o cara morre ou é afastado?, conta
o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA), com quem o senador convive há 30 anos.
O fato é que Sarney hesita em disputar a reeleição. Está convencido de que
seu desempenho eleitoral já não é mais o mesmo. Com menos cargos no governo
federal, sua influência e capacidade de articulação diminuíram A
caneta que sempre liberou polpudas verbas para apadrinhados políticos País
afora também já carece das tintas carregadas de outrora.
assessores, esperou pelo
elevador privativo sem receber nenhuma tapinha nas costas ou cumprimento dos
antigos bajuladores.
Mas não seria este o primeiro sinal da solidão de Sarney, depois
de deixar o comando do Congresso. No fim de fevereiro, quando chegava ao
plenário para marcar presença já como senador comum, ele foi abordado por um
antigo funcionário. O servidor notou o isolamento e o ex-presidente logo
emendou. ? eja como é o poder. Junto vem a velhice?, Desabafou com voz trôpega
e ar cansado. Sem poderes formais no Senado, Sarney demonstra ter pouca
disposição para o exercício legislativo. O parlamentar, que já não relatava uma
matéria desde 2002, chega sempre por último nas reuniões partidárias, quando o
encontro já está no fim. Sarney anunciou até uma licença de 120 dias para
terminar o livro?Testamento para Roseana? A data ainda não está definida. Seu primeiro,
Salomão Alcolumbre, está de sobreaviso, mas ainda quer ver para crer que
conseguirá ocupar a cadeira de Sarney nesta legislatura.
Rei posto no Congresso, rei posto também na Esplanada dos
Ministérios. Desde o fim do ano passado, Sarney tem perdido posições
estratégicas no governo Dilma. Na Anatel, ele dominava duas das 12 cadeiras do
conselho consultivo. Perdemos ambas, com o fim do mandato de Fernando César
Mesquita em fevereiro e a substituição de Virgínia Malheiros. Na Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) Sarney também viu seu poder
minguar, com a saída de Fernando Fialho da diretoria-geral do órgão. Na Agência
Nacional do Petróleo (ANP), Alan Kardec, indicado por ele, não foi reconduzido.
Na Valec, o senador maranhense perdeu a presidência da autarquia ? com a saída
de José Francisco das Neves ? e a diretoria de engenharia do órgão, que era
comandada por Ulisses Assad, seu aliado.
Sentindo-se desprestigiado, antes do feriado da Páscoa,
Sarney sacou o telefone e ligou para a presidenta Dilma Rousseff. Aliados
contam que ele demonstrava preocupação com a situação do Ministério
do Turismo, pasta comandada por seu aliado e também maranhense Gastão Vieira.
Mas não foi a permanência de Vieira que levou o ex-presidente da República a
recorrer a Dilma. Há tempos, Sarney tenta reaver o comando do Instituto
Brasileiro de Turismo (Embratur). Seu inimigo político, o comunista Flávio
Dino, preside o órgão e cresce como um dos principais nomes na corrida pelo
governo do Maranhão em 2014. No que depender da presidenta, no entanto,
Sarney ficará a ver navios. A Embratur deve mesmo permanecer sob o
controle do PCdoB. Para piorar, Dilma estuda a substituição de Washington
Viegas, indicado de Sarney na Companhia Docas do Maranhão (Codomar).
Para tentar recuperar parte do fôlego político,
Sarney articula para que sua família ganhe duas cadeiras no Senado no
próximo ano. A estratégia começa no Amapá e termina no Maranhão, seus redutos
eleitorais. Ele convenceu sua filha, a governadora Roseana
Sarney (PMDB-MA), a disputar uma cadeira de senadora em 2014. No
Amapá, pode lançar o filho Fernando Sarney. Questionado sobre seus projetos
pessoais, a partir do próximo ano, Sarney tem dito que pensa em se dedicar
somente aos livros. Amigos próximos adotam a cautela. ?Ele também costuma dizer
que há duas maneiras de sair da política. Ou o cara morre ou é afastado?, conta
o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA), com quem o senador convive há 30 anos.
O fato é que Sarney hesita em disputar a reeleição. Está convencido de que
seu desempenho eleitoral já não é mais o mesmo. Com menos cargos no governo
federal, sua influência e capacidade de articulação diminuíram A
caneta que sempre liberou polpudas verbas para apadrinhados políticos País
afora também já carece das tintas carregadas de outrora.
Fonte: Revista Época
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