Do ilusório gene egoísta ao caráter cooperativo do genoma humano
Tempos de crise sistêmica como os
nossos favorecem uma revisão de conceitos e a coragem para projetar
outros mundos possíveis que realizem o que Paulo Freire chamava de o
“inédito viável”.
Este sistema pretendeu encontrar sua base científica na pesquisa do
zoólogo britânico Richard Dawkins que há trinta e seis anos escreveu
seu famoso O gene egoísta (1976). A nova biologia genética
mostrou, entretanto, que esse gene egoísta é ilusório, pois os genes não
existem isolados, mas constituem um sistema de interdependências,
formando o genoma humano que obedece a três princípios básicos da
biologia: a cooperação, a comunicação e a criatividade. Portanto, o
contrário do gene egoísta. Isso o demonstraram nomes notáveis da nova
biologia como a prêmio Nobel Barbara McClintock, J. Bauer, C. Woese e
outros. Bauer denunciou que a teoria do gene egoísta de Dawkins “não se
funda em nenhum dado empírico”. Pior, “serviu de correlato
biopsicológico para legitimar a ordem econômica
anglonorteamericana” individualista e imperial (Das kooperative Gen, 2008, p.153) .
Disso se deriva que se quisermos atingir um modo de vida sustentável e
justo para todos os povos, aqueles que consomem muito devem reduzir
drasticamente seus níveis de consumo. Isso não se alcançará sem forte
cooperação, solidariedade e uma clara autolimitação.
Detenhamo-nos nesta última, a autolimitação, pois é uma das mais
difíceis de serem alcançadas devido à predominância do consumismo,
difundido em todas classes sociais. A autolimitação implica uma renúncia
necessária para poupar a Mãe Terra, para tutelar os interesses
coletivos e para promover uma cultura da simplicidade voluntária. Não se
trata de não consumir, mas de consumir de forma sóbria, solidária e
responsável face aos nossos semelhantes, a toda a comunidade de vida e
às gerações futuras que devem também consumir.
A limitação é, ademais, um princípio cosmológico e ecológico. O
universo se desenvolve a partir de duas forças que sempre se
auto-limitam: as forças de expansão e as forças de contração. Sem esse
limite interno, a criatividade cessaria e seríamos esmagados pela
contração. Na natureza funciona o mesmo princípio. As bactérias, por
exemplo, se não se limitassem entre si e se uma delas perdesse os
limites, em bem pouco tempo ocuparia todo o planeta, desequilibrando a
biosfera.
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