O Natal é repleto
de significados. Um deles foi seqüestrado pela cultura do consumo que, ao invés do Menino Jesus, prefere
a figura do bom velhinho, o Papai Noel, porque é mais apelativo para os
negócios. O Menino Jesus, ao invés, fala da criança interior que carregamos
sempre dentro de nós, que sente necessidade de ser cuidada e quando, já
crescida, tem o impulso de cuidar. É aquele pedaço do paraíso que não foi
totalmente perdido, feito de inocência, de espontaneidade, de encantamento, de
jogo e de convivência com os outros sem qualquer discriminação.
Para os cristãos é a celebração da
“proximidade e da humanidade” de nosso Deus, como se diz na epístola a Tito
(3,4). Deus deixou-se apaixonar pelo ser humano que quis ser um deles. Como diz
belamente Fernando Pessoa em seu poema sobre o Natal: “Ele é a eterna Criança,
o Deus que faltava; ele é o divino que sorri e que brinca; a criança tão humana
que é divina”.
Agora temos um Deus criança e não um
Deus, juiz severo de nossos atos e da história humana. Que alegria interior
sentimos quando pensamos que seremos julgado por um Deus criança. Mais que nos
condenar quer conviver e se entreter conosco eternamente.
A comensalidade é tão central que
está ligada à própria emergência do ser humano enquanto humano. Há sete milhões
de anos começou a separação lenta e progressiva entre os símios superiores e os
humanos, a partir de um ancestral comum. A singularidade do ser humano, a
diferença dos animais, é reunir os alimentos, distribui-los entre todos,
começando pelos mais novos e pelos idosos e depois entre todos.
A comensalidade supõe a
cooperação e a solidariedade de uns para com os outros. Foi ela que
propiciou o salto da animalidade para a humanidade. O que foi verdadeiro
ontem, continua verdadeiro hoje. Por isso nos dói tanto ao saber que milhões e
milhões não têm nada para repartir e passam fome.
No dia 11 de setembro de 2001
ocorreu a conhecida atrocidade: os aviões que se jogaram contra as Torres
Gêmeas. No ato, morreram cerca de três mil pessoas.
No mesmo dia, exatamente, 16.400
crianças, abaixo de cinco anos, morriam de fome e de desnutrição. No dia
seguinte e durante todo o ano, doze milhões de crianças foram vitimadas pela
fome. E ninguém ficou e fica estarrecido diante desta catástrofe humana.
Neste Natal de alegria e de
fraternidade, não podemos esquecer esses que Jesus chamou de “meus irmãos e
minhas irmãs menores”(Mt 25, 40) que não podem receber presentes nem comer
qualquer coisa.
Mas não obstante este abatimento,
celebremos e cantemos, cantemos e nos alegremos porque nunca mais estaremos
sós. O Menino se chama Jesus, o Emanuel que quer dizer: “Deus conosco”. Vale
esse pequeno verso que nos faz pensar sobre nossa compreensão de Deus, revelada
no Natal:
Todo menino quer ser homem.
Todo homem quer ser rei.
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