O Brasil não tem uma
pedagogia, tem um modismo pedagógico O texto abaixo foi publicado originalmente
neste endereço, o qual foi removido. Como eu o utilizei como referência para
este texto, e o encontrei replicado pela web, achei por bem trazê-lo pra cá. Texto de Nelson Valente, professor universitário,
jornalista e escritor “O artigo 32, parágrafos 1º e 2º, da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, deverão ser corrigidos
por uma Portaria Ministerial, embora seja um remendo lamentável. Como pode uma
lei do Congresso ser corrigida por instrumento de menor hierarquia?” O Brasil
não tem uma Pedagogia. Tem várias, sobrepostas, muitas vezes sem conexão umas
com as outras. A história da Pedagogia brasileira é uma espécie de colagem de modelos
importados, que resulta em um quadro sem seqüência bem definida. Última moda é
o Construtivismo, que nem é método pedagógico, mas sim um conjunto de teorias
psicológicas sobre as estratégias utilizadas pelo ser humano para construir o
seu conhecimento. O que é construtivismo? Mais do que uma Pedagogia, é uma
teoria psicológica que busca explicar como se modificam as estratégias de
conhecimento do indivíduo no decorrer de sua vida. Surgiu a partir do trabalho
do pesquisador suíço JEAN PIAGET (1896-1980), que
mostrou que o ser humano é ativo na construção de seu conhecimento (daí o termo
construtivismo) e não uma “massa disforme”, que é moldada pelo
professor. No Brasil essa teoria é também muito influenciada pela argentina EMÍLIA FERREIRA (que estudou como as crianças
constróem o conhecimento da leitura e escrita) e do russo L.S.VYGOTSKY (que ressalta a influência dos outros e da cultura
no processo de construção do conhecimento). Essas teorias mais recentes
costumam ser agrupadas sob a denominação Construtivismo
pós-piagetiano. Derruba a noção clássica do erro, pois demonstra que a
criança formula hipóteses sobre o objeto de conhecimento e vai “ajustando”
essas hipóteses durante a aprendizagem – e, portanto, o erro é inerente a esse
processo. No Brasil, o termo é muitas vezes usado de forma incorreta.
Toda lei
é como um retrato de uma sociedade: tem caráter ideológico, representa
interesses de um grupo e como tal reflete as necessidades e as contradições de
uma época e de uma determinada população. Não diferente disso, a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) é resultado histórico de um
jogo de forças e interesses (Lei Federal n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996) e
foi instituída com o objetivo geral de atender as demandas da realidade
educacional brasileira neste final de século. A LDBEN nº 9394/96, visando a
democratização, entendida aqui como garantia de acesso e permanência na escola,
trouxe uma novidade no que diz respeito ao tipo de sistema ou regime adotado
pelo Ensino Fundamental, sugerindo e estimulando, através do Artigo 32,
parágrafos 1º e 2º, da LDEN nº 9394/96, que o ensino fundamental seja baseado
no regime de Progressão Continuada e não mais no antigo modo seriado. O regime
foi adotado no governo de Luiz Erundina, através de seu secretário Municipal de
Educação, professor Paulo Freire, na época, ambos do Partido dos Trabalhadores
(PT/SP). No Município de São Paulo, a “sugestão” foi imediatamente acatada pelo
secretário Municipal de Educação que fundamentou-se no referido artigo 32 da
Lei Federal n.º 9.394, para implantar na rede pública o regime de Progressão
Continuada. A estratégia de adoção do regime, de acordo com os documentos
oficiais do Município, contribuindo para viabilizar a universalização da Educação
Básica, que é o impulso para as nações se projetarem e competirem mundialmente,
também é um meio de garantir o acesso e principalmente a permanência do aluno
na escola. Os documentos também indicam que esta medida é uma forma de otimizar
recursos e de regularizar o fluxo de alunos da rede (idade/série), pois a
evasão e repetência eram considerados pela Secretaria Municipal de Educação
como “perniciosos ralos por onde se desperdiçam” os preciosos e poucos recursos
financeiros da Educação. Para garantir a “aceitação” pelos professores da
Progressão Continuada no âmbito escolar, a Secretaria Municipal de Educação
divulgou alguns outros documentos de cunho pedagógico que explicitavam as bases
teóricas como sendo aquelas do Construtivismo, ou seja,
os princípios de Piaget, Emília Ferreiro e Paulo Freire, conceitos de que todos
são capazes de aprender e que a aprendizagem é ininterrupta e não linear.
A partir deste princípios não fazia mais sentido reprovar um aluno pela falta
de domínio de alguns conteúdos, mesmo porque a avaliação passa a ser constante,
contínua e cumulativa e o reforço escolar e a recuperação, se necessários,
devem ocorrer ao longo do ano. A retenção de um aluno só acontecerá ao final
dos ciclos em casos extremos de não superação dos conteúdos e de faltas acima
de 25%. A educação brasileira precisa ser urgentemente repensada, no bojo de
uma grande reforma social. Mas enquanto as questões mais simples não forem
devidamente resolvidas pela “burocracia do MEC” parece que continuamos na firme
disposição de enfrentar os grandes problemas educacionais através do discurso
bonito, inflamado, sem consistência. É por isso que a educação brasileira
continua a ser um triste pesadelo em todo o território nacional. Educação de péssima qualidade em todos os níveis e
modalidades de ensino. Uma tragédia anunciada! Se for verdade que o homem só se
torna homem pela educação, todos deveram estar empenhados na sua melhoria. A
educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e
violência
0 comentário "Muito modismo e pouca pedagogia na educação brasileira"
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