O
Brasil pode iniciar a próxima semana caminhando para mais um momento
politicamente decisivo e traumático da sua História. Três eventos – um já
ocorreu, um ocorre hoje e o outro está agendado para amanhã – e uma palavra
pronunciada pelo ex-presidente José Sarney (PMDB) indicam que o governo da
presidente Dilma Rousseff e do PT encontra-se, de fato, caminhando para o
precipício e já não parece capaz de encontrar o caminho de volta à estrada
margeada, de um lado, pela credibilidade e, do outro, pela estabilidade. São
eventos que a princípio parecem distantes um do outro, mas que sob uma
observação tenta e cuidadosa, estão fortemente entrelaçados, de modo que não há
como dissocia-los um do outro. O mais grave é que tudo indica que essa
conjunção de fatos demonstra que as lideranças políticas do país mexeram as
peças erradas no xadrez político, preferindo deixar a crise se tornar mais
aguda, a ponto de desaguar nas ruas, correndo o risco de não ter como ser
contida. O apelo ao diálogo, feito por vozes corajosas e sensatas, como o
governador Flávio Dino (PCdoB), não foi levado em conta até, o que torna
rigorosamente imprevisivelmente e perigoso o que vem por aí.
O primeiro evento foi o pedido de prisão preventiva do
ex-presidente Lula, feito na sexta-feira pelo Ministério Público de São Paulo,
que afirma ser ele proprietário do famoso tríplex do Guarujá, cometendo,
portanto, crime de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Mesmo duramente
criticado por muitos juristas, simpáticos e adversários de Lula, o pleito do
dos promotores, apresentado numa espetaculosa entrevista coletiva concedida na
manhã de quinta-feira, causou um impacto tremendo no que ainda havia de sólido
na base de sustentação do governo. A presidente Dilma, em que pese a sua
capacidade de absorver pancadas, adquirida nas sessões de tortura que sofreu
nos porões da ditadura, sentiu o golpe, a ponto de avisar que, aconteça o que
acontecer, não vai renunciar. O cenário, portanto, é de absoluta instabilidade.
O segundo evento é a convenção do PMDB, que ocorre neste sábado
em Brasília, para que o partido defina sua posição em relação ao futuro
imediato. Por maior que seja a boa vontade de qualquer observador em relação ao
governo, o fato flagrante é que, sob o comando do presidente da República,
Michel Temer, o partido caminha para romper a aliança com o PT e abandonar o
barco governamental da presidente Dilma. Nas ultimas semanas, Michel Temer
percorrer todas as regiões do País realizando encontros com líderes do partido
e representantes da sociedade civil aos quais passou uma mensagem afirmando ter
chegado a hora de pacificar a Nação e de retomar o caminho da estabilidade
política e do crescimento econômico. Nos bastidores, porém, ninguém duvida que
Temer, um político hábil e experiente, está jogando fortemente, com o aval das
principais lideranças pemedebistas e de outros partidos afins, para
desestabilizar o governo, causar a renúncia da presidente e, ele próprio,
assumir como salvador da pátria. Tanto que uma das propostas que serão
avaliadas na convenção de hoje é a de que o PMDB desembarque do governo do PT.
O terceiro evento foi uma palavra, que teria sido pronunciada
pelo ex-presidente José Sarney, ao avaliar a situação do governo numa roda de
senadores, quinta-feira, em Brasília. Aos que queriam ouvi-lo, o mais
experiente e antenado líder político da República teria respondido, em tom de
sentença: “Acabou”. A informação foi registrada pela versão virtual do Jornal
do Brasil, segundo a reprodução feita pelo sempre bem informado blog do
jornalista Gilberto Leda. Sarney só se manifestaria sobre a crise com essa
contundência em duas circunstâncias. Uma delas é a que parece ser a que o
motivou diante do cenário atual de agravamento das tensões. A outra seria num
embate com opositores que exigisse dele declarações fortes para fragilizar o
adversário, o que não é o caso. Mesmo que tenha um quinhão de maquiavelismo,
motivado pela possibilidade de voltar ao poder se Michel Temer vier a assumir o
comando da República, declaração-sentença do ex-presidente pode ser a tradução
antecipada do que está a caminho. A sentença do ex-presidente explica o
silêncio que ele vem guardando há semanas, registrado pela Coluna nas 48 horas
em que aconteceu o vazamento do suposto depoimento-bomba do senador Delcídio do
Amaral, a visita de Michel Temer a São Luís e a condução coercitiva de lula a
mando do juiz Sérgio Moro.
O último fato ainda vai ocorrer e será decisivo: as
manifestações de domingo convocada em todo o país pelos partidos de posição, a
começar pelo PSDB. Os organizadores e a imprensa especulam que só na Avenida
paulista, que é a aorta de São Paulo, devem se concentrar 1,5 milhão de pessoas
para pedir a derrubada do governo da presidente Dilma, seja pelo impeachment,
seja pela renúncia, ou seja pela cassação pela Justiça Eleitoral. Multidões
estão sendo previstas em todas as capitais. O problema é que o PT e seus
aliados, como a CUT, decidiu mobilizar suas forças para confrontar as
manifestações adversárias, o que pode acabar em confronto e tragédia. O bom
senso prevaleceu em São Paulo, onde o PT, que faria uma manifestação a três
quilômetros da Paulista, decidiu suspender a mobilização para evitar o pior. Em
São Luís o entendimento é o outro: o PT vai “peitar” a manifestação do PSDB na
Litorânea.
Uma foto que diz muito de uma decisão de mudar de partido
Poucas imagens registrando atos políticos foram tão
reveladoras quanto a que documentou o ingresso do deputado federal André Fufuca
no PP, na sede nacional do partido, em Brasília. Em primeiro lugar, chama
atenção o partido que ele escolheu, já que o PP é uma das agremiações que,
segundo o Ministério Público Federal, se beneficiaram criminosamente do assalto
feitos aos cofres da Petrobras, com 19 dos seus detentores de mandato com um pé
na cadeia. A cena registrada pela imagem é ao mesmo tempo surpreendente e
preocupante. O deputado André Fufuca inclinado sobre a mesa assinando,
provavelmente, sua ficha de filiação. Ao seu lado, dando-lhe tapinhas nas
costas, o notório senador piauiense Ciro Nogueira, que hoje preside a legenda e
é um dos mais encalacrados políticos do país, incluído entre os beneficiários
diretos do esquema de desvio investigados pela Operação Lava Jato. E para quem
não se lembra, quando deputado federal, Ciro Nogueira foi braço direito do
folclórico deputado pernambucano Severino Cavalcante, que presidiu a Câmara dos
Deputados e foi destituído do cargo e teve mandato cassado por corrupção. Do
lado esquerdo está o deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, atual líder do PP na
Câmara Federal, ex-ministro das Comunicações e investigado por vários indícios
de corrupção. E à direita, exibindo um sorriso enigmático, o deputado
maranhense Waldir Maranhão, 1º vice-presidente da Câmara Federal e um dos
“homens de ouro” do já não tão poderoso presidente da Câmara Federal, deputado
Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Vale indagar se o jovem parlamentar, que tem se
mostrado ativo o complexo e movediço tabuleiro de Brasília, tem noção exata da
escolha que fez. Se tem, tudo bem, a Coluna nada tem mesmo a ver com isso. Se
não, lhe seria sugerido que refletisse um pouco mais. Para começar, André
Fufuca será liderado por Waldir Maranhão no estado.
Do Jornalista Ribamar Corrêa
0 comentário "Três eventos e uma sentença de Sarney indicam que a crise chegou ao limite e que seu desfecho está próximo "
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